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SBP apoia Moção em defesa da Paz e contra a crescente corrida armamentista em escala mundial

Moção aprovada por unanimidade pela Assembleia Geral Ordinária de Sócios da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em 28 de julho de 2022, na Universidade de Brasília (UnB), em Brasília, por ocasião da 74ª Reunião Anual da SBPC.

 

Moção em defesa da Paz e contra a crescente corrida armamentista em escala mundial

 Destinatários: Sociedades científicas do Brasil e de outros países, Parlamentares, Ministério de Relações Exteriores, Ministério da Defesa, Agência Internacional de Energia Atômica e Unesco.

 “Em julho de 1955, foi divulgado um manifesto pela paz e contra o uso de armas nucleares, liderado por Bertrand Russel e Albert Einstein, assinado por inúmeros cientistas de destaque e apoiado por milhares de pessoas no mundo todo. O manifesto teve uma importante repercussão junto à opinião pública, à ONU e aos governos e trazia uma conclamação aos cientistas e ao público: "Em vista do fato de que, em qualquer guerra mundial futura, armas nucleares certamente serão empregadas e que tais armas ameaçam a existência continuada da humanidade, instamos os governos do mundo a reconhecer, e a expressar isto publicamente, que seus objetivos não podem ser alcançados por meio uma guerra mundial, e nós os exortamos, consequentemente, a encontrar meios pacíficos para a solução de todas as questões de disputa entre eles”.

 

Nas décadas de 1950/60, a comunidade científica mundial, apoiada pela opinião pública, teve êxito em sua campanha pelo banimento dos testes nucleares sob a água, na atmosfera e na superfície da Terra. Cientistas e sociedades científicas brasileiras participaram destes esforços. Na Constituinte de 1987, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, a Sociedade Brasileira de Física – SBF e muitas outras entidades se mobilizaram com êxito para que houvesse, na Constituição Federal, a proibição das armas nucleares. Nas duas décadas seguintes, a mobilização de cientistas brasileiros e argentinos conduziu à assinatura de tratados que foram essenciais para manter a América do Sul livre dessas armas. No entanto, não se conseguiu o banimento geral das armas nucleares, nem impedir a sua produção em diversos países do mundo. Apesar de esforços para sua diminuição, o número delas em todo o mundo é absolutamente alto. Em particular, EUA e Rússia possuem juntos cerca de 11.000 armas nucleares operacionais. Além disso, recentemente foram desenvolvidas novas tecnologias para o lançamento dessas armas, como os mísseis hipersônicos.

 

Hoje os riscos de uma guerra nuclear voltam a assombrar o mundo.  A situação atual é muito perigosa, em particular aquela decorrente da guerra na Ucrânia, que já matou milhares de pessoas, levou a um imenso fluxo migratório e gerou altas tensões entre países possuidores de armas nucleares. É relevante lembrar que as armas modernas, que matam com “eficiência” nunca vista, são provenientes também de resultados científicos e tecnológicos e do trabalho de cientistas e técnicos.

 

O perigo de uma escalada das hostilidades em relação ao uso de armas nucleares é evidente e sério.  Tensões se avolumam também em outras partes do mundo. Toda a arquitetura de segurança, baseada na Carta das Nações Unidas e em tratados multilaterais e bilaterais e outros arranjos, está ameaçada. É fundamental que todos os países busquem trabalhar juntos pela paz e para compensar os impactos globais desta guerra. E não há outra perspectiva promissora à vista, que não seja uma solução pacífica.

 

O enorme crescimento na corrida armamentista, com o grande aumento dos orçamentos de muitos países para defesa, leva à redução de recursos para a educação, saúde, C&T, meio ambiente etc. Enquanto isto, escasseiam recursos para o combate à fome, que grassa em inúmeros países, e às doenças e pandemias que atingem milhões de pessoas no mundo. Por outro lado, o urgente enfrentamento das mudanças climáticas encontra-se fortemente afetado pela guerra e pelas consequências dela decorrentes. Ampliam-se também os preconceitos, exacerbados pela situação, como aqueles que discriminam cientistas, artistas e outras pessoas por suas origens nacionais, étnicas ou culturais.

 

O objetivo principal da ciência deve ser defender e proteger a vida e não acarretar a morte. Os cientistas devem estar conscientes e se manifestar contra a utilização dos conhecimentos que produzem e que estão sendo usados para gerar a morte em grande escala e que ameaçam a sobrevivência da humanidade. A Assembleia Geral da SBPC afirma a importância de os cientistas voltarem a debater, a se manifestar e a influenciar autoridades e governos na adoção de ações que defendam a paz e que contenham a corrida armamentista acelerada que assola o mundo neste momento. Retomemos o apelo do manifesto Einstein-Russell: “Apelamos como seres humanos aos seres humanos: lembre-se de sua humanidade e esqueça o resto”!

 

Brasília, 28 de julho de 2022.”
 

 

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