SBP Sociedade Brasileira de Psicologia

A influência da globalização no desenvolvimento de comportamentos ecológicos por meio do intercâmbio cultural

O desenvolvimento científico proporcionou a evolução das tecnologias de comunicação e permitiu a globalização, ou seja, a aproximação entre pessoas e diminuição das distâncias entre os países (Santos, 2015). Seu efeito é observado no fato de que está cada vez mais fácil ter acesso às mais diversas culturas, seja por intermédio das redes sociais, viagens a passeio, a trabalho ou os chamados intercâmbios culturais, que podem proporcionar uma imersão cultural muito rica para aqueles que vivenciam essa experiência. A imersão cultural nos dá a oportunidade de aprender novos hábitos, costumes e comportamentos nos mais diversos aspectos: social, cultural e ambiental, pois ao conviver em uma cultura diferente levamos conosco os hábitos e costumes, mas ao mesmo tempo, somos influenciados pela cultura do país hospedeiro. Viver em um país diferente do seu pode ser muito importante para o desenvolvimento pessoal, senso de cidadania, responsabilidade e respeito à diversidade cultural (Sebben, 2011). Ampliando essas possibilidades, pode-se pensar também que esse processo inclua um aumento no entendimento da relação pessoa-ambiente.

            Órgãos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), desde a década de 1970, têm realizado eventos, publicado e elaborado documentos e relatórios que relacionam cultura e desenvolvimento sustentável. Uma das propostas é integrar a cultura aos marcos do desenvolvimento sustentável (Organização das Nações Unidas [ONU], 2017; Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura [UNESCO], 2017).

            Sendo assim, seria possível que a globalização, ao favorecer trocas culturais em diferentes níveis, permita construir ou melhorar as estratégias voltadas para a aquisição ou manutenção do comportamento ecológico? Para responder a essa pergunta parece importante identificar a influência das diferenças culturais no desenvolvimento de comportamento ecológico investigando intercambistas. O intercâmbio cultural foca na educação intercultural e no desenvolvimento pessoal, por meio das práticas educativas e processos de aprendizagem levando em consideração os valores culturais locais e da cultura de origem (Sebben, 2011).

Dessa forma, dentro do contexto do intercâmbio cultural, seria possível verificar a influência que a globalização pode trazer nos aspectos relacionados às questões ambientais e do comportamento ecológico em diversos níveis. A nível individual, essa influência se daria na própria experiência individual do intercâmbio, na esfera grupal destaca-se a inserção do intercambista na nova situação social e cultural no país hospedeiro. Já a nível global, haveria um maior entendimento dos aspectos individuais e grupais que todos nós compartilhamos, como as atitudes, crenças e percepção de risco em relação ao meio ambiente, os fatores comportamentais para a solução de problemas, gestão e educação ambiental, por exemplo.

Há uma lacuna de investigação que correlacione cultura, globalização e desenvolvimento sustentável e a realização de pesquisas que foquem nos contextos culturais e comportamentos ecológicos. Apesar do foco atual ser sobre o desenvolvimento sustentável, a investigação de contextos culturais e sua influência pode ser ampliada para os mais diversos aspectos das relações interpessoais tanto a nível global quanto local, permitindo identificar como intercâmbios culturais podem propiciar processos de mudança não apenas voltados para formação acadêmica ou aprendizado de um novo idioma.

Temos trabalhado, portanto, na direção de identificar a influência da globalização, por meio do intercâmbio cultural, no desenvolvimento de comportamentos ecológicos. Pretendemos ter um melhor entendimento de como a globalização influencia e influenciará no processo rumo ao desenvolvimento sustentável, ou ao contrário, se suas interferências negativas podem nos afastar de um desenvolvimento local e global para a sustentabilidade.

Ao desenvolvermos pesquisas que visem a análise e a mudança de comportamentos ecológicos, utilizando os aspectos culturais com base na globalização e nas trocas culturais que a mesma proporciona, poderíamos começar a discutir uma educação ambiental global. O foco não seria somente a nível local, já que os problemas são partilhados em escala mundial e todos nós somos responsáveis tanto pela degradação quanto pela preservação e conservação do meio ambiente. Isso pode ser feito exercendo práticas individuais, por exemplo, ao evitar o uso de produtos descartáveis. Ou coletivas, como o engajamento no conhecimento das legislações ambientais. As diretrizes para essa educação ambiental global já foram lançadas pelas representações globais, ONU e UNESCO, cabe a nós segui-las como cidadãos e como pesquisadores. Pesquisas nessa área poderiam ampliar as possibilidades de estratégias e práticas ambientais mais conscientes e responsáveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Santos, M (2015). Por uma Globalização do Pensamento Único e à Consciência Universal (24ª ed.). Rio de Janeiro: Record.

Sebben, A (2011). Intercâmbio Cultural – para entender e se apaixonar (3ª ed.). Porto Alegre: Artes e Ofícios.

Organização das Nações Unidas (ONU) (2017). World Population Prospect The 2017 Revision: Key Findings and Advanced Tables. New York. Disponível em: https://bit.ly/2yAMfzW

UNESCO (2017). Educação para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. França. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0025/002521/252197por.pdf

 

Texto: A influência da globalização no desenvolvimento de comportamentos ecológicos por meio do intercâmbio cultural

Autoria: Eline Prado Santos Feitosa e Zenith Nara Costa Delabrida (Universidade Federal de Sergipe, São Cristovão, SE)

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