SBP Sociedade Brasileira de Psicologia

Psicólogos explicam como a guerra pode afetar a saúde mental

Alex Cambruzzi e Sofia Débora Levy participaram do Ponto de Encontro e esclareceram como o conflito entre Ucrânia e Rússia pode provocar traumas e ansiedade na população

Rádio Marconi
15 de março de 2022

Existem diversas situações que podem desencadear algum tipo de transtorno psicológico nas pessoas. Enquanto o mundo todo está com o olhar voltado ao conflito entre Ucrânia e Rússia, inúmeras pessoas estão deixando suas casas, amigos e familiares para poder se refugiar em outros países. Diante dessa situação, muitos podem ser acometidos pelo transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), desenvolvendo sintomas como insônia, irritabilidade, mudanças de humor e inquietação.

O psicólogo Alex Cambruzzi explica que mesmo não vivendo perto da zona de conflito e acompanhando as informações através de noticiários, as pessoas podem sentir emoções parecidas como as de quem está no conflito, mesmo que de um nível muito mais baixo, devido ao sentimento de empatia. “É o que a gente chama de estado de alerta. O estado de alerta é uma resposta da nossa mente solicitando que o organismo se prepare, que o corpo se prepare para um enfrentamento”, completa. Esse enfrentamento de um perigo pode ser real ou imaginado. O estado de alerta provoca ansiedade, o aumento da adrenalina e o disparo do cortisol. Alex participou de entrevista no programa Ponto de Encontro e explicou mais sobre o transtorno. Ouça na íntegra através do link da matéria:https://radiomarconi.net/2022/03/15/psicologos-explicam-como-a-guerra-pode-afetar-a-saude-mental/

 

O TEPT vem desses eventos traumáticos ou de eventos muitos repetitivos. Além do estado de alerta, há outros dois estados de estresse: resistência, que é quando a pessoa elimina ou esquece do problema; e a exaustão, que é quando não acontece a fase de resistência, onde a pessoa pode entrar em um estado de estresse agudo. “Eu começo a me aproximar da possibilidade de surgimento de um TEPT. Então o TEPT pode ser ocasional, ele pode ser de um evento muito grande, um rompante, ou ele pode ser de algo que fica repetitivamente acontecendo e eu não consigo eliminar, eu não consigo esquecer, ele não cessa e entra na fase de exaustão”, explica.

Cambruzzi também explica que o TEPT possui a presença de flashbacks, que são memórias intrusivas de algum acontecimento desconfortável que ocorrem na mesma intensidade. “Vamos imaginar, passou um ano, dois anos, quando eu ouço um som alto de alguma coisa eu tenho uma resposta no meu organismo idêntica aquela resposta daquele evento de quando aconteceu”, ressalta. Além disso, a pessoa tem uma piora na cognição, ou seja, pensará com mais dificuldade, além de insônia, ansiedade, humor deprimido e outros sintomas e fatores.

A psicóloga e especialista em TEPT, Sofia Débora Levy, também ressalta que o estresse pós-traumático possui um conjunto de alterações que mesmo o evento tendo acabado ele afeta a pessoa. “A vítima de trauma fica refém das memórias, sensações, lembranças que ela tem do momento do trauma, do momento que levou o choque, ou seja, ela foi pega de surpresa, não estava preparada internamente para lidar com aquela situação. Uma vez que ela fique abalada, aquele conteúdo psiquicamente fica dentro dela até ela conseguir digerir, até conseguir superar esse susto, esse choque”, explica.

É comum também que uma pessoa que está passando por um trauma tenha dificuldades de expressar o que está sentindo no momento ou o que sentiu durante o evento. A psicóloga Sofia participou do programa Ponto de Encontro e esclareceu mais sobre o TEPT. Ouça o player no link: https://radiomarconi.net/2022/03/15/psicologos-explicam-como-a-guerra-pode-afetar-a-saude-mental/

 

“Se esses pais, essas mães tiverem filhos, esses filhos vão nascer com maior responsividade a esse tipo de estresse. Então digamos que esse estresse seja relacionado ao medo das bombas, ao medo do som alto, ao perder o emprego, ao não ter dinheiro, a genética já vai fazer a herdabilidade, a hereditariedade”, afirma Cambruzzi. O psicólogo acrescenta que também há a alteração cerebral, por exemplo, o cérebro sofre muitas alterações com esses eventos, principalmente se for com crianças de até 12 anos de idade. “Estamos falando de coisas que são intrusivas, elas não estão lá só na superfície, só de um enfrentamento e acabou, vamos ter gerações futuras que irão sofrer com essa situação”, salienta.

O fato de ter que se refugiar do próprio país em guerra traz consigo a perda de identidade. Além de toda a incerteza e da perca, as pessoas entram no processo de luto. “É uma coisa que não termina quando acaba o evento. Então quando acabar esse conflito, essas pessoas ainda vão viver um desconforto emocional no mínimo por uns dois anos. Porque é o natural de um processo de luto, intensidades diferentes, mas com bastante desconforto”, esclarece o especialista.

Além disso, Sofia ressalta que não há apenas o trauma de guerra, mas também existem vários traumas causados pela violência. Situações como tiroteios, assaltos, sequestros e afins também podem fazer com que as pessoas desenvolvam o TEPT. “São situações em que podem marcar a pessoa, seja adulto ou criança, tão profundamente que ela perde a capacidade regular, a capacidade espontânea de responder aos estímulos que a cercam no dia a dia”, observa. Da mesma forma, isso também pode causar o choque psicológico na pessoa, que é quando ela fica temporariamente paralisada, sem conseguir raciocinar direito no momento do evento, podendo desenvolver crises de ansiedade.

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